Carlos Azevedo*
Recentemente, durante o curso sobre a revista Realidade, oferecido pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Literatura (GPJL) no Departamento de Comunicação Social da UEPB, os estudantes e profissionais presentes se interessaram em conhecer com profundidade a vida de um dos mais brilhantes escritores e jornalistas, por sinal, esquecido e injustiçado por muito tempo pelos construtores do cânone literário brasileiro: João do Rio.
A professora Cremilda Medina no já clássico livro “Notícia, um produto à venda” que assinala que “João do Rio desenvolveu uma característica primária do jornalismo moderno- buscar informações na rua”. Para ela, o escritor-jornalista desenvolveu a observação direta e palpitante do repórter que vai à rua e constrói sobre o momento a história dos fatos presentes. Da união desses dois conceitos, assinala a especialista, nasce à definição moderna de jornalismo. “E João do Rio se não é original na história da imprensa, pelo menos no Brasil inicia este processo.” (p.58)
Nelson Werneck Sodré registrou em “História da imprensa no Brasil” que Gilberto Amado traçou o perfil do jornalista e escritor João do Rio (1881-1921) da seguinte forma: “Volumoso, beiçudo, muito moreno, liso de pêlo, João do Rio falava, e Cândido Campos, muito mais moço, um adolescente quase, branquíssimo, a fronte larga, ria às soltas, com os olhos presos no do escritor. João do Rio achava-se no apogeu do triunfo jornalístico e literário. As maldades que contra ele iriam acumular-se em campanhas destinadas a reduzir e a estraçalhar não só com o escritor como o homem, não haviam ainda começado na imprensa.” (p.353). Ele continua: “Singular destino o de João do Rio! Como desapareceu na cidade transformada o animador de sua transformação! Seu nome nenhum eco desperta nas gerações de hoje. Pouco tempo depois da sua morte, já não se falava nele.” (p. 354)
Pelo menos dois livros lançados no circuito universitário reelaboram as contribuições de João do Rio tanto para o jornalismo quanto para a literatura, chegando até a comparar o escritor como um etnólogo de seu tempo. A jovem pesquisadora Júlia O´Donnell em “A cidade de João do Rio” (Zahar, 2008) estabelece um diálogo com textos clássicos dos estudos urbanos e da problemática das sociedades complexas para abordar a obra de João do Rio como uma etnografia do Rio de Janeiro no período de sua urbanização. Já o professor da Unesp, Marcelo Bulhões no livro “Jornalismo e literatura em convergência”. (Ática, 2007), assinala que “Passado aproximadamente um século, a obra de João do Rio se afigura como uma das maiores realizações de textualidade do jornalismo brasileiro em todos os tempos.” (p.104).
Fica então o convite aos alunos de letras e do jornalismo: vamos ler e estudar João do Rio?
* Jornalista e professor de Comunicação Social/UEPB
