quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um clássico do Jornalismo


Carlos Azevedo
O escritor Ítalo Calvino (1923-1985) parece que foi quem melhor resumiu o que é um livro clássico em seu brincalhão ensaio Por que ler os clássicos, escrito em 1981, quatro anos antes de sua morte. Nele, Calvino nos mostra que um livro clássico é antes de tudo uma experiência pessoal, um amuleto e, ao mesmo tempo, um escrito que se destaca dos outros por sua importância, por seu lugar na genealogia das idéias.
A área de jornalismo no Brasil é desde os anos 50 empestada de manuais “clássicos” norte-americanos ou nacionais, style books com toda a sorte de técnicas simplórias e, sem falar de muitos livros que são corroídos pela própria passagem do tempo, ação das traças ou pelos impactos da cavalgada do avanço tecnológico. Dito isto, fica difícil sim se encontrar um livro clássico na área.
Publicado em 1955, Jornalismo e Literatura, do escritor-jornalista Antônio Olinto é o que se pode chamar de clássico. Livro sintomaticamente está sumido do ensino de graduação de jornalismo no país, o livrinho de Olinto sempre proporciona novas leituras e também impressiona pelo seu pioneirismo no Brasil.
Recentemente, durante as atividades regulares do Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Literatura (GPJL) da Universidade Estadual da Paraíba, vários jovens estudantes de Comunicação Social tiveram a oportunidade de entrar em contato com este clássico do jornalismo brasileiro, o que foi muito proveitoso.
Para Olinto, Jornalismo é algo mais que uma simples atividade profissional, dividindo com a literatura o uso da escrita, o domínio da expressão. O Jornalismo também foi pioneiramente definido pelo autor com a contínua luta pela fixação de realidades. Para ele, é preciso também separar o jornalismo comum do jornalismo encarado como forma de arte.
O livro Jornalismo e Literatura foi inicialmente pensado como uma série de artigos publicados em jornal na década de 50 a fim de se responder a uma provocação dos colegas do escritor-jornalista que afirmavam que o jornalismo nunca iria chegar ao status da literatura. Curiosamente, Olinto responde com acuidade a tal provocação e, enfeixando em livro os artigos de jornal acaba escrevendo o nosso primeiro clássico teórico sobre o assunto. Antes mesmo do norte- americano Tom Wolfe, pai do chamado New Journalism, escrever sua reflexão sobre o tema, Olinto mostra-se sintonizado com o que ocorre com a indústria cultural dos EUA e se diz otimista para um futuro igual no Brasil. Neste sentido, ele vai também identificar componentes da realidade brasileira que vão provar que o jornalismo relaciona-se diretamente com a literatura. Um outro clássico,Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, vai ser a prova disto.

Nenhum comentário: